Esculturas e quadros criados por detentos fazem parte da mais recente exposição cultural aberta ao público na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. As obras, que ficarão no Espaço Cultural Mário Crosa até a próxima sexta-feira (19/07), foram elaboradas pelos integrantes da Associação Artes Bruna, projeto criado pelo artesão Fernando Livi. A mostra fica disponível para a apreciação da comunidade no horário das 8h30min às 18h.

A inciativa surgiu quando Fernando ainda estava no presídio, onde passou nove anos. Segundo ele, hoje é essa associação que representa a Família do Sistema Prisional - A Massa Carcerária na sociedade caxiense. Fernando considera a exposição uma oportunidade para a população conhecer o trabalho artístico realizado pelos detentos que estão nos presídios da região. "Essa é uma forma de recuperação e de retorno à sociedade. Todos os trabalhos são individuais e demonstram características de cada artesão que se encontra hoje em um presídio, mas quer voltar a ter uma vida normal", explica.

As oficinas de artesanato são desenvolvidas na Penitenciária Regional de Caxias do Sul (Apanhador), na Penitenciária Industrial de Caxias do Sul e no Albergue, envolvendo presos do regime fechado e do semiaberto. Fernando estima que há cerca de 200 homens e mulheres elaborando obras artesanais dentro dos presídios. As peças são produzidas com material reciclado e reutilizado (metais, jornais, restos de madeira, entre outros), e já há parcerias com entidades, como as escolas de samba, que as utilizam nos desfiles de Carnaval. Entre as obras, há quadros em madeira que servem de porta-chaves, imagens de animais também esculpidas em madeira, além de pequenos barcos e aviões.

"Expor nossas obras aqui na Câmara de Vereadores ajuda a ter uma porta aberta para mostrarmos que não é preciso ter discriminação com o detento. Há gente lá que fez pouca coisa e toda a sua vida muda porque (mesmo depois de sair do presídio) vai ser eternamente considerado ex-presidiário. Essa exposição que organizamos é uma nova oportunidade para todos da Família do Sistema Prisional", destaca Fernando.

A associação já conseguiu mais de 1,2 mil assinaturas em apoio ao projeto e conta com o incentivo dos diretores dos presídios e delegados. Na venda das peças, 60% do lucro vão para a família do detento. Os outros 40% são destinados para a Artes Bruna com o objetivo de manter o funcionamento da associação.