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Resistência e emoção marcam entrega da Comenda Percy Vargas de Abreu e Lima à Parada Livre

Vereador Rafael Bueno falou em nome do Legislativo e pediu mais respeito aos direitos humanos e criminalização da homofobia


A entrega da Comenda Medalha Percy Vargas de Abreu e Lima para o movimento Parada Livre de Caxias do Sul, na Câmara Municipal, nesta terça-feira (10/12), foi marcada por narrativas de luta e resistência. A solenidade foi conduzida pela vereadora Paula Ioris/PSDB e a indicação à comissão que decide pela entidade foi feita pelo vereador Rafael Bueno/PDT. O parlamentar integra a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Municipal, que, juntamente com a Ordem dos Advogados do Brasil - Subseção Caxias do Sul, escolheu para quem conceder a homenagem em 2019.

Em seu discurso, Bueno lamentou o fato de o prefeito Daniel Guerra/Republicanos ter a todo custo, inclusive usando a Justiça, tentado impedir a realização da Parada Livre de 2019 na Praça Dante Alighieri, no centro da cidade.

"Mas, graças à bravura de vocês, à luta conjunta, à ação do Ministério Público Estadual e Federal e à decisão da Justiça, tiveram o espaço garantido. O engajamento venceu o preconceito. E o movimento saiu ainda mais fortalecido, como pudemos ver com os milhares de militantes, simpatizantes e moradores em geral nas ruas e, agora, aqui, no plenário", ressaltou, lembrando que foi a 19ª edição da Parada Livre na cidade.

Nesta data em que se celebra o Dia Internacional dos Direitos Humanos, Bueno discorreu sobre as conquistas dessa área através da história e disse que a preocupação deve ser permanente:

"A luta e a organização para a conquista dos direitos humanos seguiram na contramão dos donos do poder e dos valores por eles pregados. Ao contrário dos valores individualistas e egoístas, a luta por direitos humanos se fez e faz na cooperação, no amor e na solidariedade", destacou.

Para Bueno, os abismos que separam as pessoas, mesmo com todo o esforço para superá-los, continuam imensos e alguns casos se ampliam e se tornam graves: 
"Reagindo a tudo isso, as pessoas que sentem na carne a opressão, a exploração, a expropriação, a escravidão, a pobreza, a desigualdade e a violência não podem se calar".

Dirigindo-se à comunidade LGBT, o vereador criticou a homofobia e pediu que a prática, hoje enquadrada na lei do racismo, seja criminalizada por meio de projeto encaminhado pelo Congresso Nacional. Segundo ele, motivada pelo preconceito, a homofobia em muitos casos leva à violência física, institucional, psicológica e sexual contra gays, lésbicas, bissexuais, travestis ou transexuais. Então, um dos maiores desafios, enfatiza, é aprovar e fazer valer as leis que a tornam crime:

"Faço esse histórico jurídico para reforçar que precisamos cobrar dos nossos representantes em Brasília que sejam aprovadas leis rígidas e abrangentes para proteger a comunidade LGBT. O direito penal existe para defender a sociedade e também minorias e grupos sociais mais vulneráveis".

O pedetista finalizou parabenizando os integrantes do movimento e colocando a Comissão de Direitos Humanos do Legislativo ao lado de suas lutas, sempre com diálogo, solidariedade e reconhecimento: 

"Além de vocês tomarem as ruas e exigirem respeito durante a realização anual da Parada Livre, hoje, aqui, homenageada de forma histórica, precisam ter suas garantias constitucionais asseguradas." 

Falando em nome da comunidade LGBT, a transformista drag queen Valma Classic Kieer, personagem idealizada por Sandro Maurício Silva, um dos coordenadores da Parada Livre, entrou no plenário a caráter, fez uma apresentação musical, discursou e pediu engajamento à causa.

"O que peço é igualdade para todos. Não é necessário nos aceitarem, mas as pessoas são obrigadas a nos respeitarem, porque os direitos e os deveres são plurais e coletivos. Mais amor e menos ódio e mortes. Viva o amor. E da maneira que você deseja esse amor", enfatizou.

Valma ainda destacou que a Parada Livre é um momento de comemoração, mas acima de tudo, de reflexão.

"A bandeira da igualdade de direitos era hasteada em nossa cidade às escondidas, mas entendemos que o movimento gay não pode nem deve ficar à margem da sociedade, calado e com medo da opinião pública. Deve conquistar seu espaço, levando a toda comunidade o entendimento de que a homossexualidade não é sinônimo de desvio de conduta ou doença psiquiátrica e, sim, um modo diferente de amar", afirmou.

A militante fez questão de agradecer aos demais integrantes da comissão organizadora da Parada Livre 2019: Jair Zauza, Nei Thiago, Jonhy Gogoy, Andressa Barrios Cortelini, Jeferson Kesller, Raquel Rota, Carla Pacheco, Alex Buffon, Viviane Dalzotto e Giovanne Faldi.

Ao final da homenagem, que também contou com a presença do presidente OAB Caxias do Sul, Rudimar Brogliato, a menina Eduarda Chaida dos Santos leu um poema no qual fala da gratidão e da sorte de ter duas mães. Aos 11 anos, ela emocionou a todos:

"Perguntam-me como é ter duas mães, e eu respondo: é maravilhoso! Nunca me faltou nada, carinho, educação, respeito, amor", recitou. "Eu luto junto com minhas mães contra o preconceito, porque tudo o que faz mal ao ser humano não me favorece. Essa luta é de todos nós".

História -
A Comenda Percy Vargas de Abreu e Lima foi instituída pelo decreto legislativo 141/A, de 22 de julho de 2003, de autoria da então vereadora Ana Corso/PT. O objetivo da distinção é reconhecer o trabalho de pessoas e instituições, na defesa dos direitos humanos. Em abril de 1964, o ex-vereador Percy havia perdido o mandato parlamentar depois de ser cassado, pelo regime militar que estava se iniciando.

(Texto: jornalista Daniel Corrêa)

10/12/2019 - 21:04
Assessoria de Imprensa
Câmara Municipal de Caxias do Sul

Editor(a): Vania Espeiorin - MTE 9.861
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