Um encontro promovido na última segunda-feira (07/08) pela Procuradoria Especial da Mulher (PEM) do Legislativo caxiense provocou reflexões a partir da reduzida presença das mulheres na política na cidade. O fio condutor do debate foi a pergunta “Por que Somos Poucas?”, que dá título ao livro lançado na oportunidade por Marisa Formolo/PT, doutora em Educação, ex-vice-prefeita, ex-prefeita em exercício e ex-deputada estadual. Marisa e Tatiane Frizzo/PSDB, titular da Procuradoria Especial da Mulher (PEM), abriram o encontro, que faz parte do Agosto Lilás e contou com uma explanação especial da ex-deputada.

Da tribuna, a titular da PEM aproveitou para lembrar propósitos do Agosto Lilás, como coibir a violência doméstica e contribuir para a luta por igualdade. Mencionou a força do feminismo e a implementação da Lei Maria da Penha, que auxilia na proteção às mulheres e na punição a quem comete agressões de gênero.

A parlamentar avalia que vários foram os avanços do campo feminino em tantos anos: “O feminicídio, por exemplo, se tornou crime hediondo, com penas que podem chegar a 30 anos de reclusão. O Agosto Lilás envolve a sociedade nessa luta pelo fim da violência. Cada mulher que lutou pelos seus direitos faz parte e comemora conosco esses avanços”.

De acordo com Tatiane, cabe às mulheres ocuparem mais os espaços, e ampliarem as reflexões como fez e propõe Marisa Formolo, na obra que está apresentado à comunidade e nasceu de sua tese de doutoramento pela UFRGS. Antes de passar a palavra à ex-deputada, Tatiane a agradeceu por vir à Câmara compartilhar seus conhecimentos com a população.

A painelista ressaltou que a tese teve como objetivo geral interpretar, na trajetória das ‘poucas’ mulheres eleitas a mandatos políticos, os acontecimentos que as constituíram para o reconhecimento à vida pública, em Caxias do Sul/RS. O recorte temporal da investigação é de 1960 a 2014 e envolve 11 eleitas por Caxias do Sul nesse período, a grande maioria educadora e vinda do interior. São elas: Esther Troian Benvenutti/PTB, Iró Nabinger Chiaradia/Arena, Rachel Calliari Grazziotin/PDT, Geni Peteffi/PMDB, Rosane Fátima Hambsch do Nascimento/PDT, Silvana Teresa Piroli/PT (ex-vereadoras); Ana Maria Corso/PT (ex-vereadora e ex-deputada federal/suplente); Denise da Silva Pessôa/PT (vereadora); Marisa Formolo Dalla Vecchia/PT (ex-deputada estadual e ex-vice-prefeita); Maria Helena Sartori/PMDB (ex-deputada estadual); e Justina Inez Onzi/PT (ex-vice-prefeita).

Dessa pesquisa resultou “Por que Somos Poucas?: Mulheres eleitas a mandatos públicos”, obra que Marisa está lançando ao público neste momento. Ela observou que a política vem sendo pouco pesquisada do ponto de vista científico e indagou-se sobre o que havia de produção de conhecimento referente ao trabalho das mulheres na cidade. Afinal, no seu entendimento, para que haja reconhecimento é preciso ter visibilidade. “Então, questionei que acontecimento nós, as eleitas, vivemos que nos tornaram pessoas possíveis de sermos eleitas?  Como são tão poucas, será que vivemos coisas tão originais porque tivemos vidas tão diferentes das outras mulheres da cidade? Meu trabalho então começou para buscar a luta de reconhecimento das mulheres”.

Entre os números iniciais que descobriu, aparecem os baixos índices de presença feminina do Parlamento municipal. Desde o surgimento do Legislativo caxiense (1892) até 2014, apenas oito mulheres (3,11%) tinham sido eleitas vereadoras em meio a um universo de 249 homens vereadores titulares (96,89%). Marisa observou, entretanto, que tanto as vereadoras quanto as demais ocupantes de cargos eletivos estudadas registram uma história e uma contribuição social, principalmente a partir do viés político, da participação, da disposição em fazer e da persistência.

“Nós, mulheres, na política, temos posição e direção de escolha. E a política neste livro eu trato como uma direção dada à escolha”, informa, estimulando a plateia à leitura. Ao recordar a trajetória das 11 mulheres eleitas, a pesquisadora listou alguns dos teóricos que a axiliaram a fundamentar a tese, como as historiadoras caxienses Loraine Giron e Vania Herédia; as filósofas Nancy Fraser, Hannah Arendt e Judith Bütler; os filósofos Paul Ricœur e Fornet Betancourt; e o sociólogo Bernard Lahire. Marisa ainda agradeceu pelo apoio da família e sinalizou alguns achados de seu estudo: “Essa investigação confirma que somos uma sociedade conservadora, patriarcal, racista. Está inculcada na sociedade uma cultura que a gente não se dá conta”.

Ao lado de Marisa, na mesa de autoridades, além de Tatiane, estiveram: Silvana Piroli/PT (presidente do Sindicato dos Servidores Municipais/Sindiserv), Denise Pessôa/PT (deputada federal), Maria Helena Sartori/MDB e Ana Corso/PT. Após a explanação da autora, foi aberto espaço para as atuais vereadoras fazerem indagações. Questionaram integrantes da mesa ou colaboraram com perguntas as parlamentares Gladis Frizzo/MDB, Estela Balardin/PT e Rose Frigeri/PT.

Neste link, você pode assistir à íntegra do encontro, que foi transmitido pela TV Câmara Caxias (canal 16 da NET) e redes sociais do Legislativo: https://www.facebook.com/camaracaxias/videos/798127665137443