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As mulheres estão ampliando a sua participação no mercado de trabalho de forma constante e cumprindo jornadas mais longas, mas, fora esses avanços, há pouco a comemorar. É o que aponta o Boletim Anual - Mulheres e Mercado de Trabalho 2015, do Observatório do Trabalho, da Universidade de Caxias do Sul (UCS). O estudo foi divulgado na tarde desta sexta-feira, na Câmara Municipal, em atividade da Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Segurança (CDHCS).
As mulheres representavam 43,3% do mercado de trabalho caxiense em 2013, contra 39,3% em 2003, de acordo com o estudo, que se baseia em dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), de 2013. O índice é semelhante ao nacional (42,8%) e um pouco inferior ao do Rio Grande do Sul (45,5%).
Além disso, houve redução de vínculos de jornadas inferiores a 20 horas e incremento em jornadas maiores de forma considerável em 10 anos. Na jornada entre 41 e 44 horas semanais, por exemplo, o aumento foi de 34,6%, em 2003, para 39,5%, em 2013.
De resto, há pouco a festejar. A defasagem salarial pouco diminuiu nos últimos 10 anos. Em 2013, os homens recebiam, em média, R$ 13,64 por hora de trabalho em Caxias do Sul, contra R$ 10,56 das mulheres. A defasagem foi de 22,6%, quase a mesma de 2003 (22,9%).
"O aumento da jornada de trabalho feminina não foi acompanhado de salários mais elevados. Isso se dá por diversos fatores: como já verificado em boletins anteriores, uma causa é a baixa participação feminina dos postos de trabalho com maior remuneração", diz o estudo. Segundo o levantamento, as mulheres ocupam apenas 30% das vagas na faixa de remuneração superior a cinco salários mínimos.
Nem a maior presença das mulheres com boa qualificação mudou esse cenário. Na faixa dos empregados com curso superior, a mulheres representavam 59,9% em 2013, contra 55,2% em 2003. "Temos um contrassenso. As mulheres contam com mais escolaridade, mas ganhando menos", disse a socióloga Ramone Micato, professora da UCS.
Para a vereadora Denise Pessôa/PT, o estudo mostra que ainda há muito preconceito em relação à presença da mulher no mercado de trabalho. "O levantamento prova que a mão de obra feminina é desvalorizada em relação à masculina", disse a integrante da Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Segurança. Para ela, o Poder Público precisa pensar em novos programas para reduzir a desigualdade no mercado de trabalho.
Chefes de família
O estudo do Observatório do Trabalho mostrou ainda que a maioria dos domicílios em Caxias do Sul é de responsabilidade das mulheres (51,38%). O dado, porém, está longe de ser comemorado. Nas faixas sem renda ou com renda de até meio salário mínimo, as mulheres respondiam por 64,7% e 64,9%, respectivamente, pelos domicílios. Em contrapartida, na faixa entre cinco e 10 salários mínimos, eles representam apenas 32,2% das chefias.
"O dado alarmante e assustador é que essa chefia está nas camadas mais empobrecidas da população", disse Ramone Mincato, acrescentando que há ainda um crescimento das famílias monoparentais chefiadas por mulheres, principalmente em função da gravidez.