VEREADORA DAIANE MELLO (PL): Não poderia, senhores vereadores, deixar de falar também desse tema que aconteceu, esse tema horrível, no Rio Grande do Sul. O Rio Grande do Sul amanheceu no Sábado de Aleluia já de luto. Seis mulheres assassinadas na Sexta-feira Santa. Isso é inadmissível! E são problemas, realmente, estruturais, culturais. E a gente tem que, sim, trazer esse tema à Câmara de Vereadores e dialogar sobre isso, porque é gravíssimo. E aconteceram, na totalidade, dez feminicídios nesse feriadão de Páscoa, o que nos entristece muito. Eu vou conceder os apartes para depois eu entrar, realmente, nessa situação. Seu aparte, vereador Fantinel.
VEREADOR EDSON DA ROSA (REPUBLICANOS): Um aparte, vereadora.
VEREADOR SANDRO FANTINEL (PL): Obrigado, vereadora Daiane. E é extremamente preocupado com essa situação que eu vou fazer um retorno aqui e relembrar que essa discussão aconteceu quando a, hoje deputada, Denise Pessôa era a nossa presidente aqui nesta Casa. Aconteceu um debate sobre essa situação, onde eu coloquei uma posição, que inclusive na época fui criticado. Eu vejo muitos movimentos, como a própria vereadora Rose falou, e é verdade, muitos movimentos. As mulheres discutindo isso, discutindo aquilo, “as entidades têm que tomar providências”. Mas eu faço uma pergunta: Quando a mulher faz a primeira denúncia, quando que a mulher se manifesta pela primeira vez que ela teve um problema com o marido, que o marido ameaçou, que, enfim, começou aquele ciclo, houve alguma instituição pública, privada, sei lá, que foi conversar com esse homem? Que foi bater um papo com esse homem para ver se esse homem não está com algum problema, para ver por que ele está agindo daquele jeito?
VEREADORA ANDRESSA MARQUES (PCdoB): Um aparte, vereadora.
VEREADOR SANDRO FANTINEL (PL): Houve esse tipo de movimentação? Daquela época, em que a Denise era presidente até agora, eu não vi esse movimento. Eu não vi uma instituição, seja pública, privada, da área da saúde, de nenhuma área. Eu não vi uma instituição se movimentar no sentido de dizer: “Não, vai lá, consulta na delegacia. A mulher denunciou, houve um problema, ela está com medo do marido.” Houve alguém, uma instituição, algum profissional que foi visitar esse homem? Que sentou com ele, que conversou com ele para ver por que ele agiu daquela forma? O que está acontecendo com ele? O que está na cabeça dele? Por que ele está agindo daquele jeito? Alguma instituição fez isso? Não! Ninguém. Até agora zero. E os crimes continuam aumentando, aumentando, aumentando. Os índices aumentando, aumentando, aumentando. Será que não era a hora de começar a fazer isso? Porque talvez, fazendo isso, se pode evitar o crime. Porque a gente sabendo qual é o problema, a gente pode fazer aquela pessoa se tratar e isso não acontecer. Obrigado, vereadora.
VEREADORA DAIANE MELLO (PL): Obrigada, vereador Fantinel. Vereador Edson da Rosa.
VEREADOR EDSON DA ROSA (REPUBLICANOS): Vereadora Daiane, a sua ida à tribuna e a da vereadora Rose já diz que este não é um debate ideológico, partidário; é um debate da sociedade, que nós temos que fazer. Então, parabenizar V. Exa. Porque é um assunto triste. Lamentavelmente, o Rio Grande do Sul entrou para a história em um feriado santo, na sexta-feira. Eu tenho três meninas, vereadora Andressa Marques, e é uma das coisas que eu falo muito com elas. Desde o namoro. Eu tenho uma casada, uma noiva e uma que está também no caminho. Digo: “Olha, olhem o todo.” Acho que foi a vereadora Rose Frigeri que falou: ninguém acorda anjo e depois fica demônio. Os sinais são dados. E eu digo isso a elas. E nós temos uma organização lá em casa. Não sei qual das vereadoras que falou. Lá nós dividimos as tarefas. Porque em cinco, hoje, em uma casa, é uma comunidade. E cada um tem que fazer o seu papel. Penso que esse é o conceito que nós temos que disseminar nas nossas famílias. E nós como vereadores. Então, vereadora, lamentavelmente o Rio Grande do Sul entrou para a história nesse cenário da violência, e nós temos que debater. Mas não só ficar... Nós, homens, temos que fazer a nossa parte; nós, homens, temos que discutir. Esse debate não pode ficar só com as senhoras. Não pode. Nós temos que fazer a nossa parte.
VEREADORA DAIANE MELLO (PL): Obrigada, vereadores, pelos apartes. Eu já concedo na sequência, vereadora Andressa. Mas eu quero falar de uma situação, aqui, que eu acredito que é o cerne da questão, que é a parte cultural. A gente tem... Se a gente discutir esse assunto, infelizmente, a gente chegar para um jovem, para um menino, um adolescente, e dizer assim: “O marido matou a mulher.” Sabe que pergunta eles vão fazer para ti? “O que ela fez?” Gente, isso é inadmissível! O que a mulher fez para ela merecer isso? Eu tenho adolescentes em casa, então eu já fiz esse teste. Por isso que eu estou tentando demonstrar para eles uma maneira diferente de ver essas situações. Eu fiz, uns anos atrás, trouxe isso quando a gente fez aquele debate com as mulheres aqui. Por quê? Porque é uma realidade da nossa sociedade. E, vereador Edson da Rosa, quando a gente fala também assim... A gente olha, e tem mulheres que veem os sinais, e elas dão um passo para trás, mas eles vêm atrás delas. Então, é isso que é muito complexo. E se a nossa sociedade não discutir sobre isso, homens, mulheres, famílias como um todo, escolas, esses índices só vão crescer, infelizmente. Que essas mulheres que nos fizeram entrar na história nesse feriadão não passem batido. Que não sejam só números e estatísticas. Precisamos, sim, rever o que está acontecendo como sociedade, como serviços oferecidos. Eu estou fazendo, estou reunindo os dados do Instituto Rosa Del Este para trazer aqui, à Câmara de Vereadores, nos próximos dias. Já estava planejado isso. Mas isso é gritante. Temos que trazer o quanto antes. Quais os atendimentos que estão sendo feitos em Caxias do Sul? Vamos pensar na nossa cidade. Graças a Deus não aconteceu aqui nesse final de semana, mas com toda certeza muitas foram vítimas de violência. Então, temos que pensar nisso, em questão de prevenção, para não ser a próxima cidade com feminicídio nos próximos dias. Eu acredito que esse tema tem que ser reverberado, não só por nós mulheres, por homens, mas pelas famílias como um todo, como escolas e a questão do poder público. Seu aparte, vereadora Andressa.
VEREADORA ANDRESSA MARQUES (PCdoB): Obrigada, vereadora Daiane. Gostaria de contribuir com a sua fala, a fala do vereador Fantinel e do vereador Edson também. Porque, quando a gente fala desse tema, muitas vezes já ficou, um tempo atrás, parecia que era uma temática só das mulheres, e não é. Como a senhora está colocando, a vereadora Rose também colocou, é de todos nós. E nós precisamos, vereador Fantinel, que os homens nos ajudem no seguinte: nós estamos falando que as mulheres avançaram, que a realidade mudou, que a gente hoje está saindo, obviamente, de casa, fazendo de tudo, estamos aqui, inclusive, reivindicando direitos e debatendo a sociedade, mas a gente não vê, muitas vezes, o movimento dos homens repensando o seu papel. Então, se nós mudamos o nosso papel social, precisamos que os homens também discutam, inclusive entre vocês. Porque nós discutimos entre nós e discutimos com a sociedade. E muitas vezes percebemos um receio dos homens. Parece que serão menos homens. E sabemos que temos aliados e que vocês nos apoiam em relação a isso, mas é importante que o movimento venha de vocês em discutir esses papéis também. E o que nós podemos fazer para mudar essa cultura da violência. E para finalizar, vereadora Daiane, quando a gente ouve ainda uma indagação do que ela fez, a gente vê que o problema é sério, ele é grave. Porque nada justifica uma morte, nada justifica a violência. Vereadora Andressa, hoje nós sabemos que nem bater em um animal é certo. Não é certo. Por que bater em uma mulher ainda tem justificativa? Matar uma mulher porque ela não fez aquilo que eu achava que ela deveria fazer. Então, é grave. Nós precisamos urgentemente pensar, sim, em alternativas; e precisamos a participação dos homens ativa nisso, para que a gente possa rediscutir os papéis sociais e entender que tem tarefas e tem coisas que são de todos nós. Que não existe esta coisa: “Ah, isto é coisa de mulher; isto é coisa de homem.” Isso é coisa do passado. E se a gente não debater sobre isso, urgentemente, a gente vai continuar e vai aumentar esses números cada vez mais. Verdade, vereadora Daiane. Obrigada pelo aparte.
VEREADORA DAIANE MELLO (PL): Obrigada, vereadora Andressa. E, no tempo que nos resta, também falar uma coisa que a vereadora Rose nos trouxe, que a gente pensa muito na questão do depois, né. “Ah, vamos aumentar as penas, vamos fazer isso, vamos fazer aquilo.” Mas muitas dessas questões dos feminicídios, por eles pensarem também que são donos das mulheres, eles acabam se matando! Então a gente tem que realmente pensar na questão da prevenção, da discussão sobre esses assuntos de políticas públicas para que isso não venha a acontecer, que as mulheres não sejam agredidas, seja fisicamente ou psicologicamente, para que isso não ocorra depois a questão do feminicídio em si. Que essas mulheres não passem batido, como eu disse, que não sejam somente estatística. Vamos todos juntos nessa luta, porque é uma luta de todos nós. Eu não podia deixar de falar sobre esse assunto no dia de hoje. Como os vereadores disseram, não é discussão de A e B, não é discussão ideológica de partido do PT, PL. Não, é uma discussão que tem que vir seriamente em nossa sociedade — para concluir, senhor presidente — de homens, mulheres, famílias, poder público, tudo junto, para que a gente possa ter redução nesses números e não aumento. Muito obrigada.